Editorial
É preciso falar
A lei Maria da Penha completa 17 anos hoje. Felizmente, é uma das legislações mais conhecidas do País. Pelo nome, já sabe-se exatamente do que está falando. Infelizmente, ela segue sendo cada vez mais acionada. Mesmo com ações constantes de uma rede integrada por diversos órgãos públicos e não-governamentais, a violência contra a mulher vem crescendo, conforme mostra a matéria de Helena Schuster e Carlos Queiroz na página 7 desta edição. Pelotas, lamentavelmente, não destoa. Houve aumento de 31% nos registros de ameaça no primeiro semestre.
Há que se questionar os porquês disso e atacá-los na origem, em sua raiz. A reportagem do DP expõe o belo trabalho de uma ampla rede para proteção e acolhimento das vítimas. É necessário, é urgente que seja cada vez mais forte essa atuação, é admirável a dedicação de quem se dedica a cuidar de quem precisa. Porém, há que se trabalhar em outra frente, a da prevenção. E isso aí é algo a ser cobrado de cada cidadão, debatido em voz alta pela sociedade inteira e levado à luz cada vez mais - incluindo nós, imprensa, que precisamos fomentar mais e mais essa discussão afim de jogar luz à necessidade das mudanças comportamentais urgentes.
Hoje o antigo bordão "em briga de marido e mulher não se mete a colher" é, felizmente, visto como um escárnio. Mete-se sim a colher, os bedelhos, enfim. Um feminicídio, o ponto mais baixo da violência contra a mulher, raramente é o primeiro ato. É quase sempre precedido de uma série de pequenas ações que se desenvolvem ao longo de anos. Começam num grito, em uma proibição, viram um apertão, um empurrão, um tapa, um soco, e por aí vai. A vítima, envolta nessa situação, muitas vezes não nota essa escalada. Mas seu entorno, via de regra, sim. E é aí que entra o papel de um amigo de verdade, do familiar, do vizinho, do colega de trabalho. Estar atento a esses sinais de violência e, de fato, meter a colher para evitar a próxima etapa da violência.
Quanto ao papel do homem, hoje se vê, felizmente, muitas discussões sobre a masculinidade e seu papel, muitas vezes tóxico, e muitos trabalham para evitar repetir padrões outrora pouco ou nada questionados. Ainda assim, os dados deixam claro que só isso não vem sendo suficiente. É tarefa de cada um lançar a luz na postura de outros homens próximos a si para evitar esse comportamento violento, seja físico, psicológico ou sexual.
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